Nesta sessão do Fórum Global de Paisagens da Conferência Digital GLF Amazônia: Divisor de Águas – realizada em 22 de setembro – o SERVIR-Amazônia e seus sócios exploraram como os avanços da tecnologia geoespacial e de observação da Terra estão melhorando o monitoramento dos bosques, a previsão de desastres e a tomada de decisões baseadas em evidências do bioma amazônico. Fundamentando-se nas inovações da teledetecção e as imagens satélites, os palestrantes debateram sobre as vias para conectar eficazmente o “espaço com a comunidade”, aumentar os investimentos públicos e privados para melhorar a conectividade à Internet em áreas isoladas, bem como fortalecer os esforços locais para proteger a biodiversidade e os territórios indígenas através da utilização da tecnologia geoespacial.

 

Desde as observações da Terra e os sistemas geoespaciais de apoio até a tomada de decisões fazem um papel cada vez mais importante na redução de emissões de gases de efeito estufa e os impactos das mudanças climáticas. Estes sistemas podem apresentar soluções aos problemas do desenvolvimento da Amazônia, já que une as comunidades remotas e grupos desfavorecidos a provedores de dados e informações tanto de governos com do setor privado e ONGs.

Entretanto, ainda existem sérios desafios a fim de alcançar de forma efetiva nossos objetivos em conectar o espaço com a comunidade e alcanças estas inovações, tais como a eficácia das cadeias de valor de dados e informações geoespaciais, a capacidade dos agentes nacionais e subnacionais para entender, contribuir e utilizar as últimas tecnologias ou o acesso à Internet das comunidades locais e frequentemente isoladas.

Lou Verchot, Mestre de Cerimônias

Cientista principal e líder do Grupo de Restauração das Terras, Aliança de Biodiversidade Internacional e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT)

Veja o vídeo SERVIR-Amazônia

Baixe o white paper da sessão

Juan Lucas Restrepo
Diretor General, Aliança de Biodiversidade Internacional e o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT)

 

“A través de SERVIR-Amazônia, reunimos o conhecimento local e o melhor da ciência do mundo sobre tecnologias de observação terrestre geoespacial, para melhorar a capacidade dos agentes locais e fomentar a gestão dos recursos naturais na região amazônica. Como a Aliança de Biodiversidade Internacional e o CIAT, que formam parte do OneCGIAR, temos a honra de liderar o Programa SERVIR-Amazônia com estreita colaboração com nossos sócios: o Grupo de Informática Espacial (SIG), a Conservação Amazônica (ACCA), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA) e a Fundação EcoCiência”.

Panel 1: Do espaço à comunidade

O painel, moderado por Maria Elena Gutiérrez, Diretora da Conservação Amazônica – ACCA, Peru, explorou como as inovações nas Observações da Terra (sensores remotos e imagens satélites) estão melhorando no monitoramento florestal, a previsão de catástrofes e a proteção da biodiversidade da Amazônia.

Eric Anderson
Cientista Chefe Associado e Líder do Tema de Desastres, Oficina de Coordenação Científica do SERVIR, Centro Marshall de Voos Espaciais da NASA
David Saah
Diretor Gerente, Grupo de Informática Espacial (SIG); Professor e Diretor do Laboratório de Análises Geoespaciais, Universidade de São Francisco
Monica Romo
Especialista Regional no Meio Ambiente Amazônico, USAID / Região Sul americana

 

Julio Cusurichi
Presidente da Federação Nativa do Rio Mãe de Deus e Afluentes (FENAMAD)

Inovações na tecnologia geoespacial

A associação entre a NASA e USAID conecta uma ampla gama de dados com prioridades de desenvolvimento relacionados com a redução e adaptação das mudanças climáticas. Os avanços são notáveis nas capacidades de monitoramento de satélites como Landsat, nossa capacidade em prever eventos climáticos bem como entrar em áreas como o fundo de riscos climáticos e os mercados de carbono. O acesso à dados abertos mudou as regras do jogo para as comunidades científicas e de desenvolvimento.

 

 

Sustentabilidade dos serviços geoespaciais

A longo prazo, as organizações podem se beneficiar de múltiplas formas das tecnologias geoespaciais: quando as grandes agências estatais ampliarem sua infraestrutura, as indústrias crescerem ao seu redor e garantirem uma oferta de apoio por mais tempo. Mesmo assim, as organizações devem otimizar suas operações com melhores informações, e é exatamente isso que fazemos com SERVIR-Amazônia. Finalmente, as organizações devem comunicar os êxitos para exemplificar os benefícios. 

Uso de tecnologia geoespacial por parte de comunidades amazônicas

A existência de plataformas de informação geoespacial nos tem ajudado a trabalhar com comunidades amazônicas que, por sua vez têm tomado a iniciativa de criar seus próprios sistemas de informação e têm assumido a liderança no monitoramento de seus territórios. No entanto, os níveis de educação em ciência e tecnología são muito baixos, por exemplo, na Amazônia peruana, onde as crianças de 12 anos estão muito interessadas em tecnologia, mas somente cerca de 3% têm conhecimentos básicos para usá-la.

Perspectiva dos povos indígenas

Para uma organização como FENAMAD, a utilização de informações geoespaciais é muito importante. Para utilizar todo o seu potencial, monitorar nossos territórios e fortalecer nossas comunidades, necessitamos capacitação, equipes e infraestruturas. Estamos trabalhando com nossos parceiros ACCA e SERVIR-Amazônia em todas essas frentes.

Gavin Schmidt
Assessor Climático Sênior da NASA e Diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA em Nova York

 

“A qualidade e amplitude dos dados que a NASA está fornecendo e as discussões sobre a mudança climática pode nos auxiliar a ver o que se sucede na Amazônia, onde pressões únicas ameaça o o meio ambiente de forma inigualável. No entanto, todos estes dados não são tão facilmente acessíveis como deveriam. Existem muitos fluxos de dados que muito frequentemente não estão integrados e não são compatíveis com medidas socioeconômicas chaves. Possibilitar que estes recursos estejam nas mãos das partes interessadas e dos tomadores de decisões locais deve ser de alta prioridade para a NASA e seus parceiros. E é nesse momento que entram em jogo iniciativas como SERVIR: as redes que estão conectadas com as comunidades locais e as alianças entre agencias podem ajudar a co-criar o tipo de produtos e serviços que ninguém de nós conseguiria fazer sozinho. Estou muito emocionado de ver a variedade de atividades organizadas pelo Hub SERVIR- Amazônia”.

Panel 2: Abordando juntos os desafios das mudanças climáticas

Este segundo painel foi moderado por Marina Piatto, Diretora Executiva da Imaflora do Brasil, onde se discutiu aspectos de tomada de decisões das tecnologias geoespaciais no contexto das mudanças climáticas.

Manuel Pulgar Vidal
Líder da Prática Global de Clima e Energia da WWF e ex-ministro do Meio Ambiente no Peru
Marcela Quintero
Diretora, Área de investigação de Panorama Multifuncional, Aliança da Biodiversidade Internacional e CIAT
Luis Felipe Duchicela
Assessor Sênior para Assuntos de Povos Indígenas, USAID

 

Marion Adeney
Oficial de Programa, Andes-Amazônia, Fundação Moore

Tecnologia geoespacial para melhorar as tomadas de decisões

No Peru, 64% das emissões se devem ao uso da terra, especificamente seu desmatamento e degradação. Isto mostra que devemos abordar a situação a nível nacional. As decisões internacionais não são suficientes e a tecnologia pode nos ajudar a cumprir com nossas próprias funções e alcançar nossos objetivos. A tecnologia deve cumprir três propósitos: responder a ameaças, como exploração ilegal, mineração ou incêndios. Estar em harmonia com a realidade do cenário e ajudar os tomadores de decisões a cumprir com suas obrigações.

 

 

Colocar em prática a evidência baseada na ciência

Com intuito de apoiar os tomadores de decisão com a ciência e a evidência das mudanças climáticas, os cientistas devem unir esforços a fim de compreender e satisfazer as necessidades e os objetivos das partes interessadas a nível local. No nosso trabalho temos que identificar os gargalos ajudar as partes interessadas a encontrar soluções para ações concretas que proporcionem evidências e ajudem na eliminação desses gargalos. Em uma experiência anterior positiva no Peru, pudemos simplesmente fazer isso, ao apoiar o governo na eliminação daquilo que impedia a adoção de sistemas pagos por serviços ecossistêmicos.

 

Reconhecimento dos direitos dos povos indígenas

Os povos indígenas devem assumir um papel de liderança no mundo atual para conservar ecossistemas críticos. Necessitamos garantir o compromisso dos governos nacionais de assumir os direitos dos povos indígenas na Amazônia, apoiando-os no fortalecimento de sua estrutura de governo e melhorar suas economias. Somente após o reconhecimento em conjunto sobre seus direitos, cultura e cosmovisão, poderemos começar a partir de sua perspectiva, a falar sobre os direitos dos grupos marginalizados.

Da informação geoespacial ao impacto

Para obter resultados no território, devemos reconhecer que a informação no produz necessariamente um impacto de forma direta. Para fechar esta lacuna, é necessário elaborar ferramentas juntamente com os utilizadores finais, para assim integrarmos os sistemas entre as partes interessadas em níveis e fazer com que a informação seja processável pelas comunidades e pelos tomadores de decisões. É fundamental pensar numa forma de medir o impacto desde o princípio de um projeto.

 

 

Jene Thomas
Diretor de Missão de USAID / Peru

“A mudança climática é uma das mais altas prioridades da USAID. Existe agora grande urgência na adaptação e redução das mudanças climáticas. Ninguém está imune aos efeitos das mudanças climáticas, porém, os pobres, os desfavorecidos e os marginalizados são os mais vulneráveis. No USAID Peru, trabalhamos em equipe com comunidades locais, povos indígenas, mulheres e jovens para liderar e manter a ação climática.”

 

 

Debate sobre monitoramento independente ou patrocinado pelo estado

Na mesa redonda final, Louis Verchot pediu aos palestrantes para compartilharem seus pontos de vista sobre o monitoramento independente comparado com o patrocinado pelo estado. Os palestrantes concordaram que o monitoramento local é importante, pois complementa os esforços nacionais e fornecem dados mais granulares. Auxilia as comunidades a melhorarem a gestão dos esforços locais.

Também abordaram alguns pontos adicionais:

  • O monitoramento patrocinado pelo estado, quando existe, estabelece uma linha base, mas está sujeita a influencias políticas e questões orçamentárias. O monitoramento independente é chave para a prestação de contas e para fornecer controles sobre estes temas.
  • Há uma tensão entre prover múltiplos controles a um sistema e o risco de replicar esforços. Porém, essa tensão deve ser considerada positiva.
  • Os esforços coletivos com dados e código de fonte aberta (por exemplo, MapBiomas) produzem dados de qualidade e os governos os estão utilizando em seus próprios trabalhos de monitoramento. No entanto, a comparabilidade e a interoperabilidade são problemas entre diferentes sistemas de monitoramento, o que limita sua utilidade.
  • Para que o monitoramento independente e comunitário funcione é necessário desenvolver sua capacidade de forma contínua e apoiar sua implementação.