A ignição do fogo durante a estação seca dependem de fatores como práticas de uso da terra, demandas de mercado, existência e aplicação de leis ambientais e do clima predominante. Supondo que os agentes antropogênicos sejam semelhantes de um ano para o outro, a propagação involuntária de incêndios depende de a estação seca estar extraordinariamente seca ou úmida, portanto, prever a intensidade da temporada de incêndios é essencial para o planejamento e prevenção. A atividade do fogo em função do clima pode ser determinada com base nos mais de 20 anos de medições contínuas de focos de calor estimados por satélite, variáveis climáticas observadas e previsões climáticas sazonais de Modelos de Circulação Geral.
A previsão de incêndio sazonal apresentada abaixo segue um modelo estatístico (Fernandes et al., 2011) que utiliza a previsão da temperatura da superfície do mar (TSM) desde o início de março para prever anomalias da temporada de incêndios de julho a setembro (JAS). A previsão é atualizada mensalmente até junho e quanto mais perto a previsão estiver da temporada de queimadas de julho a setembro, mais precisa é a previsão. As temperaturas do mar atipicamente quentes no Atlântico Tropical Norte (NTA por sua sigla em inglês) alteram os padrões de precipitação em direção ao norte reduzindo o fluxo de umidade que entra na Amazônia levando à seca. Assim, espera-se que um NTA mais quente se traduza em uma estação de incêndios mais ativa, enquanto um NTA mais frio resulte em atividade de incêndios mais amena (abaixo da média) (Fig. 1).
Portanto, o índice NTA é usado para prever as anomalias de incêndios em JAS no sul e oeste da Amazônia. A previsão em junho do índice Atlântico Tropical Norte para julho a setembro (JAS) indica um NTA mais quente que a média para em 2022 (Fig.1), o que deve resultar em uma previsão de temporada de incêndios levemente ativa para a Amazônia Ocidental no JAS. O tom rosa claro na Fig. 2 indica atividade um pouco acima da média sendo este o padrão predominante da previsão de 2022. As lacunas no mapa representam áreas sem incêndios ou com baixa relação com o índice NTA.
Mostrando no momento: condições iniciais de junho de 2022
Previsão de incêndios de Julho a Setembro (Desvio Padrão)
Figura 2. Previsão da temporada de incêndios de julho a setembro de 2022 (inicialização de junho). https://firecast.cast.uark.edu/
É importante lembrar que o clima determina apenas parte da variabilidade da temporada de incêndios. Se não houvesse atividade humana, não haveria incêndios no bioma amazônico mesmo em anos secos, por outro lado, um esforço concentrado de queima provavelmente resultará em mais incêndios acima da média mesmo em anos com precipitação normal. No entanto, a previsão de incêndio com base na previsão climática sazonal pode fornecer uma perspectiva das condições climáticas que podem favorecer (secas) ou inibir incêndios generalizados (chuvas).
De forma parecida à previsão atual para 2022, a previsão de incêndio para 2021 apontava para uma temporada de incêndios levemente ativa no setor sul e oeste da Amazônia.
A SERVIR-Amazônia está trabalhando em várias frentes para melhorar a precisão da previsão de incêndio sazonal, incluindo ferramentas de visualização que permitirão mapeamento interativo. Além disso, reuniões estão sendo planejadas para informar os stakeholders e potencialmente possibilitar a antecipação de medidas de prevenção na região.
Condições climáticas que ocasionam as estações secas de 2022 e 2021
A previsão de uma temporada de incêndios ligeiramente acima da média para JAS 2022 descreve uma perspectiva semelhante à do mesmo período em 2021, quando os modelos apontaram para seca moderada e uma temporada de incêndios ligeiramente ativa observada principalmente no sudoeste da Amazônia brasileira.
No entanto, as condições climáticas antecedentes à estação seca são distintas. O SPI de 3 meses de junho de 2021 (correspondente às condições de abril a junho) indicava uma seca amena na Amazônia Ocidental (Fig. 5a), que persistiu por todo o terceiro trimestre (Fig. 4b). Já o SPI de junho de 2022 apresenta precipitação atipicamente positiva (Fig. 5b) na maior parte da Amazônia, com exceção da região sul, incluindo Madre de Dios, no Peru, norte da Bolívia e estados brasileiros do Acre e Rondônia, o que poderia acelerar o estresse hídrico da vegetação e levar a condições favoráveis para incêndios já no início da temporada de incêndios.