Quando ingressou no Instituto de Manejo Florestal e Agrícola (IMAFLORA) há quase 20 anos atrás, a jovem engenheira e mestre em gestão de florestais tropicais não podia imaginar que estaria à frente de um dos mais importantes projetos de valorização de comunidades tradicionais e indígenas do Brasil, o Origens Brasil.
Contudo, o início da trajetória foi como auditora, verificando o cumprimento de padrões socioambientais por comunidades ribeirinhas na Amazônia brasileira. A auditoria de campo na Amazônia não é uma missão fácil para mulheres. São horas sentadas em barcos simples, percorrendo rios e riachos para alcançar as áreas de produção de castanha do Brasil, por exemplo. Em geral, não há banheiros e os alojamentos na floresta são improvisados. Para qualquer mulher em trabalho de campo, tomar banho totalmente vestida é prática recomendada devido ao mau comportamento arraigado de alguns homens que pode degenerar em situações de assédio. No entanto, a solidariedade de outras mulheres, tanto indígenas quanto ribeirinhas sempre existiu.
Patricia recebendo o primeiro Prêmio Internacional de Inovação para Alimentos e Agricultura Sustentáveis concedido pela FAO e pelo Governo Federal da Suíça em 2019
Para além da solidariedade e acolhimento à engenheira branca do Sudeste, reais momentos de compartilhamento ocorreram. Patrícia se recorda da época em que estava auditando uma comunidade no extremo norte do estado do Amapá, muito distante de uma cidade. Patricia tinha dado à luz não fazia muito tempo e ainda estava lactante. Ocorreu então que uma senhora da comunidade que havia adotado um menino cuja mãe não tinha condições de criar, apresentou a criança que não parava de chorar e Patricia acabou amamentando o bêbe. Anos depois, em outra auditoria ela reencontrou a criança já grande e forte. Este pequeno gesto de duas mulheres de culturas e gerações diferentes é só uma amostra de quanto a humanidade pode ser solidária, afinal.
Muitas outras histórias fazem parte destes quase 20 anos de vivência da engenheira Patricia na Amazônia. A frente da Rede Origens Brasil ela tem muitos desafios pela frente. Com uma equipe enxuta composta por duas mulheres e um homem, Patricia coordena as ações do Origens Brasil em quatro territórios que abrigam 35 Áreas Protegidas e uma rede de 1760 produtoras e produtoras. As produtoras desta rede respondem por 45% deste total, sendo a maioria de mulheres indígenas.
Assista Patricia falando sobre ORIGENS
Patricia e sua equipe estão finalizando uma Plataforma Digital que mostrará esta diversidade produtiva e de gênero. Além disso, o monitoramento da integridade dos territórios onde atua a Rede Origens Brasil deverá envolver de forma mais afirmativa mulheres através da oferta de treinamentos e capacitações direcionados para elas. Outros olhares de gênero estão sendo buscados no Origens Brasil. Patricia explica, por exemplo, que a mensuração de impacto inclui um Indicador que deve ser respondido apenas pelas mulheres e que mede o quanto elas estão envolvidas nas decisões de comercialização dos produtos na comunidade. Estes dados estão sendo compilado e em breve possibilitarão uma visão do protagonismo econômico das mulheres indígenas e ribeirinhas nas suas comunidades. Há muito que avançar no reconhecimento e protagonismo de mulheres que vivem na floresta e da floresta. Engenheiras como Patricia, mulheres de sua equipe e mulheres indígenas e ribeirinhas são fonte de conhecimento e prática acumulados que precisam ser conhecidos por mais mulheres do meio florestal.