Monitorar mudanças na floresta Amazônica é essencial para a efetivação das medidas de comando e controle que são realizadas para conter o avanço de distúrbios como extração ilegal de madeira, mineração e atividades agropecuárias. Apesar do país contar com diversas frentes de monitoramento, as informações geradas estão dispersas em diferentes instâncias de órgãos públicos e encontram barreiras tecnológicas e burocráticas para serem disponibilizadas de forma pública, o que acaba dificultando respostas rápidas às questões ambientais.
Para a equipe de Geoprocessamento do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) os dados espaciais oriundos dessas frentes são especialmente necessários para integrar as ações de proteção à Amazônia. Por isso, a disponibilização dessas ferramentas pode ajudar a alavancar as análises espaciais das secretarias estaduais de meio ambiente e centros técnicos e de pesquisa de organizações ambientalistas da sociedade civil da região amazônica.
Para a área ambiental, sair do mapa analógico para o digital significa poder trabalhar com paisagens cada vez mais extensas e identificar mudanças do ambiente quase em tempo real. No entanto, o uso de mapas digitais e dinâmicos na web requer servidores específicos, o que pode representar uma restrição no fluxo de compartilhamento. Pensando nesse cenário e com o suporte do SERVIR-Amazonia – uma iniciativa conjunta de desenvolvimento da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA) dos Estados Unidos e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), liderado pela Aliança Internacional da Biodiversidade e Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) -, o Imaflora realizou um treinamento virtual sobre o uso do servidor de mapas digitais Geoserver, com o intuito de preparar as organizações que trabalham com a proteção da Amazônia a armazenar, compartilhar e obter dados espaciais através da internet ou de uma rede local.
Foto dos participantes na abertura.
Foto dos participantes no segundo dia.
Anderson Cardoso, analista de Tecnologia da Informação, e Felipe Cerignoni, analista de Geotecnologias, ambos do Imaflora, lideraram a capacitação de 31 participantes para o uso do Geoserver, incluindo sua integração com Sistemas de Informação Geográfica, como o QGIS. A interface e as principais funções do Geoserver foram exploradas de forma que os participantes pudessem adicionar e manipular os diferentes tipos de arquivos espaciais bem como configurá-los de acordo com os estilos adequados à identidade visual dos projetos. Para os exemplos e exercícios práticos foi utilizada a base de dados do aplicativo TerraOnTrack, uma ferramenta desenvolvida pelo Imaflora com o apoio do SERVIR Amazônia que permite que pessoas em campo visualizem informações espaciais em territórios socioambientais e coletem informações sobre distúrbios na floresta, criando alertas para alguma instituição de apoio.
Durante o treinamento foi utilizada uma parte da base de dados do aplicativo Terra On Track com enfoque na região da Calha Norte, no Pará. Créditos do conjunto de dados público: Desmatamento (Prodes-Amazônia-INPE, 2019); Focos de incêndio (Amazon Dashboard, 2020); Terra Indígena (FUNAI, 2019); Unidade de Conservação (MMA, 2019), Assentamentos Rurais (INCRA, 2019) e Mapa Base (Planet Lab Inc. mosaico 2020-10).
O treinamento, que teve duração de 16 horas divididas em três dias com aulas ao vivo e exercícios complementares, foi realizado e gravado na plataforma Zoom, o que possibilitou a adesão de participantes de diferentes regiões e instituições como: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS-PA), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), SEDAM-Rondônia, FEMARH-Roraima, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e das Políticas Indígenas do Acre (SEMAPI-AC), Instituto Centro de Vida (ICV), WRI Brasil, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Sema-Mato Grosso, EMBRAPA, Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), CENSIPAM, Women in GIS, Instituto Socioambiental (ISA), Universidade Federal do Acre (UFAC) e Universidade Federal de Goiás (Lapig-UFG).
O principal resultado foi que os participantes puderam entender como um servidor de mapas digitais pode colaborar para a melhoria na gestão e na disponibilização de dados espaciais, além de suscitar uma discussão sobre o compartilhamento de dados entre organizações. Isso porque, o acesso estruturado, seguro e ágil a dados importantes é imprescindível para análises e tomadas de decisões no dia-a-dia. Um dos participantes destacou que, em tempos de instabilidade política e apagões recorrentes nos repositórios do governo, recursos tecnológicos como os apresentados durante o treinamento podem permitir a “criação de uma salvaguarda no acesso à dados públicos já disponibilizados”.
O curso se encerrou com um exercício de reflexão sobre como tecnologias geoespaciais livres podem colaborar para iniciativas de abertura dos dados públicos, incluindo dados de pesquisas que atualmente se encontram apenas em bancos de teses e dissertações e em formato inadequado para análises espaciais.